Anticorpos nocivos à defesa imune e a relação com a forma grave da Covid-19
Segundo um grande estudo internacional publicado em agosto na Science Immunology, a presença de anticorpos nocivos (conhecidos como autoanticorpos) à própria defesa imunológica de um indivíduo é um fator-chave para a forma grave da COVID-19. Esses anticorpos podem estar presentes em uma pequena parcela de indivíduos saudáveis não infectados e sua prevalência aumenta com a idade, o que poderia auxiliar no porquê de os idosos terem um maior risco de contrair a forma grave da COVID-19.
O estudo foi realizado com 3.595 pacientes de 38 países admitidos em unidades de terapia intensiva com a forma grave da COVID-19. 13,6% desses pacientes possuíam autoanticorpos, sendo a proporção mais elevada em pacientes com mais de 80 anos (21%) em comparação aos com menos de 40 anos (9,6%). Além disso, foram encontrados autoanticorpos em 18% dos indivíduos que vieram a óbito.
Não obstante, foi realizada uma coleta de sangue em quase 35.000 indivíduos saudáveis antes da pandemia em busca dos autoanticorpos. 0,18% dos que tinham entre 18 e 69 anos possuíam autoanticorpos, o que aumentou para 1,1% em indivíduos de 70 a 79 anos e 3,4% naqueles acima dos 80 anos.
Os resultados desse estudo se somam aos de outros estudos, como o realizado em outubro de 2020, em que se descobriu que cerca de 10% dos indivíduos com a forma grave da COVID-19 possuíam anticorpos que atacam moléculas de proteína no sangue de extrema importância no combate a infecções virais.
Para Aaron Ring, imunologista da Escola de Medicina de Yale, agora é preciso ponderar quanto ao possível papel desempenhado pelos autoanticorpos em outras doenças infecciosas. Segundo Ring: ‘’suspeito que apenas começamos a arranhar a superfície’’.
Fonte: Bastard, P. et al. Science Immunol. 6, eabl4340 (2021).
